Comentário ao JUPITER trial

Por Mariana Morais (CS de Espinho)

No estudo Jupiter, a rosuvastatina 20mg /dia reduziu o risco de eventos cardiovasculares (CV) major quando comparada com o placebo, em pessoas com poucos factores de risco CV elevados, excepto a elevação da proteína C reactiva.

Houve um aumento do risco de diagnóstico de diabetes efectuado pelos médicos, mas não existiram diferenças no risco de miopatia.


Orientações da NICE

Os médicos devem continuar a seguir as guidelines da NICE relativamente à terapêutica modificadora dos lipidos e utilizar sinvastatina 40 mg/dia para a maioria das pessoas que necessitam de uma estatina. No entanto, o estudo JUPITER oferece alguma segurança sobre a utilização da rosuvastatina quando não é possível utilizar a sinvastatina.

 

Até o estudo JUPITER ser publicado, nenhum estudo controlado e randomizado (ECR) sobre a rosuvastatina mostrou benefício relativamente à melhoria da esperança ou qualidade de vida. Na verdade, em dois estudos de pacientes com insuficiência cardíaca (GISSI-HF e CORONA), a rosuvastatina mostrou ser ineficaz na redução do endpoint composto de morte CV, enfarte do miocárdio não-fatal e AVC não fatal, apesar da redução significativa do colesterol LDL.

 

O que é que o estudo encontrou?

JUPITER foi um estudo internacional de larga escala, multicentrico, controladao e randomizado em 17802 homens (>=50 anos) sem história de doença CV. Avaliando os factores de risco convencionais, provavelmente não foram incluídos homens considerados com elevado risco de eventos cardiovasculares. A estimativa do risco de doença CV aos 10 anos, utilizando o instrumento baseado no estudo Framingham, foi inferior a 20 % na maioria das pessoas. No entanto todas apresentavam uma proteína C reactiva elevada o que, de acordo com a American Heart Disease, é um marcador de aumento de risco de doença CV.

 

Rosuvastationa 20 mg/dia durante uma média de 1.9 anos reduziu o endpoint primário composto (enfarte do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral não fatal, hospitalização por angina instavel, revascularização arterial ou morte por doenças CV) em 44%, comparado com o placebo (Number Needed to Treat=82).

Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos relativamente a efeitos secundários renais, hepáticos ou musculares ou diagnóstico de cancro, mas existiu um aumento relativo de 25% no risco de diagnóstico de diabetes mellitus nos doentes a tomar rosuvastatina (number needed to harm=165)

 

Numa primeira impressão os resultados parecem impressionantes. No entanto, os beneficios e riscos absolutos são que para cada 1000 pessoas que tomam rosuvastatina durante dois anos, 8 evitaram ter um enfarte do miocardio ou acidente vascular cerebral ou morte por outras doenças CV, mas 6 pessoas desenvolveram diabetes, que não teriam se não estivesem a tomar rosuvastatina.

 

Conclusões da NICE

JUPITER, tendo sido o primeiro estudo a mostrar que a rosuvastatina pode ajudar as pessoas a viver mais tempo ou melhor, demonstra alguma segurança para aqueles que estão a tomar este fármaco, quando as outras estatinas não são possíveis. No entanto, existem algumas imperfeições neste estudo…

O estudo foi interrompido mais cedo devido aos benefícios encontrados nas pessoas que estavam a tomar rosuvastatina. Isto significa que o estudo JUPITER só durou uma média de 1,9 anos em vez dos quatro anos que estavam planeados. A interrupção precoce poderá ter levado a algum exagero nos resultados. Além disso, a dose utilizada foi de 20mg/dia, e a Medicines and Healthcare products Regulatory Agency recomendou não iniciar com esta dose.

 

A rosuvastatina pode ser considerada em algumas situações nas quais a NICE recomenda a utilização de estatinas de elevada intensidade (exemplo: indivíduos com síndrome coronário agudo ou pacientes com diabetes mellitus tipo 2 com doença CV ou aumento da excreção de albumina na urina) e em que as estatinas de primeira escolha não sejam toleradas ou sejam contra-indicadas.

 

Artigo originalhttp://www.npc.co.uk/MeReC_Monthly/merec_monthly_no10_web.pdf

Prescrição Racional
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