Medicação para hipertensão arterial ao deitar

 



 

Pergunta clínica: Em adultos com hipertensão arterial, a ingestão dos fármacos anti-hipertensores à hora de deitar em vez da tradicional ingestão matinal produz uma maior redução da morbi-mortalidade cardiovascular?

População: adultos com hipertensão arterial
Intervenção: ingestão dos fármacos anti-hipertensores à hora de deitar
Comparação: ingestão matinal dos fármacos anti-hipertensores
Outcomes: marcador composto primário que incluiu enfarte agudo do miocárdio, necessidade de revascularização coronária, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e morte por doença cardiovascular

Enquadramento: Tradicionalmente, a medicação anti-hipertensora é prescrita com indicação para ingestão matinal. Esta indicação nunca havia sido validade com estudos de elevada robustez e qualidade. Por outro lado, a cronoterapia vem sendo defendida por alguns investigadores, mas também carecia de evidência científica de boa qualidade para ser recomendada. A cronoterapia consiste na ingestão da medicação anti-hipertensora ao deitar.

Desenho do estudo: Foi efetuado um ensaio clínico randomizado. Foram incluídos 19.168 adultos de idade superior ou igual a 18 anos, com hipertensão arterial e com necessidade tratamento médico para baixar a pressão arterial. Os participantes do estudo foram aleatoriamente alocados ao grupo da intervenção ou ao grupo controlo. Os pacientes do grupo da intervenção receberam instruções para tomar toda a sua medicação anti-hipertensora ao deitar. Os pacientes do grupo controlo receberam instruções para tomar a medicação anti-hipertensora de manhã.

Durante a intervenção, entre os vários fármacos anti-hipertensores aprovados para serem administrados em toma única diária, qualquer classe terapêutica poderia ser usada: IECA, ARA-II, bloqueador dos canais de cálcio, beta-bloqueador ou diurético. Medicamentos como estatinas, aspirina e antidiabéticos também puderam ser prescritos conforme necessário.

A análise dos outcome foi efetuada por investigadores cegos para a alocação.

Resultados: Verificou-se um follow up de 99% com uma mediana de 6,3 anos de tempo de seguimento. O número de pacientes que sofreu um evento cardiovascular do marcador composto primário, foi significativamente menor no grupo da intervenção, pacientes que tomaram os medicamentos ao deitar, do que no grupo controlo, ou seja, o grupo da toma matinal dos anti-hipertensores. Esta diferença foi uma diferença estatisticamente significativa, tendo o número necessário para tratar sido de 20,3. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas ao nível da dos eventos adversos ou da adesão terapêutica entre os dois grupos.

Conclusão: Em jeito de conclusão, podemos afirmar que este este estudo encontrou evidência de que a toma dos anti-hipertensores ao deitar reduz significativamente a morbi-mortaliade cardiovascular nos adultos hipertensos.

Comentário: Este estudo traz-nos evidência científica relevante e orientada para o paciente com potencial para mudar a prática clínica. À luz desta evidência, a medicação anti-hipertensora deverá passar a ser tomada ao deitar.

Fonte: Eur Heart J

Por Carlos Martins

 

 

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