Errar: verbo transitivo





Eu erro, tu erras, ele erra, todos nós erramos. Porém, em verdade, não estou muito preocupado com os erros dos outros, o que realmente me importa é que eu erro.

Quando aquela doente entrou no gabinete não parecia estar muito satisfeita. Sentou-se à minha frente e, de forma paciente, ouviu o que eu lhe tinha para dizer. Quando lhe dei oportunidade de ser ela a interveniente disse-me o que lhe ia na alma. Queixou-se de que eu não a escutara, de que não ligara às suas queixas e preocupações e que, por isso, tinha sofrido.

No momento em que percebi o que estava a acontecer fiquei espantado, sem palavras ou reação. Fiquei aterrado com o facto de, após ouvir o seu testemunho, ter de concordar com ela: eu errei. Por mais que me custasse, ouvi calado o que nenhum médico gosta de ouvir e fiquei surpreendido pela sua franqueza e educação.

Quando ela acabou o seu relato fui eu que lhe dirigi a palavra. Assumi o meu erro e pedi-lhe sinceras desculpas por lhe ter causado sofrimento com a minha falta. Ainda lhe agradeci pelo que me disse, falei-lhe que me tinha ensinado uma grande lição e que me esforçaria ao máximo para não cometer mais falhas como aquela.

A senhora sorriu em resposta e no fim da consulta, humildemente, pediu-me desculpas por me ter chamado à atenção. Eu desculpei-me novamente e, mais uma vez, lhe agradeci.

Enquanto fazia o registo da consulta no processo clínico pensei no que havia acontecido. Pensei, vezes sem conta, em como teria sido possível aquela situação me ter escapado, logo eu, sempre com a ideia de que estava sempre atento aos meus doentes. Por fim, pensei também no que poderia ter feito melhor.

Chateei-me comigo próprio por ter sido um tipo de profissional do qual tenho repulsa, daqueles distraídos e negligentes. Valeu-me o facto de acreditar que não fiz por mal e que “errar é humano”.

No entanto, e no fim de tanto refletir, estremeci com uma temível conclusão: que este não teria sido o primeiro erro da minha ainda curta carreira e que, definitivamente, estaria muito longe de ser o último…

Por Cláudio Carril

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