Suplementos de vitaminas e antioxidantes: que evidência?

Por Vítor Cardoso, USF Gualtar 

 

Pergunta clínica: Qual a eficácia dos suplementos de vitaminas e antioxidantes na prevenção da doença cardiovascular?

 

Desenho: Meta-análise de 50 ensaios clínicos aleatorizados e controlados (ECAC), totalizando 294.478 participantes (156.663 em grupos de intervenção e 137.815 em grupos de controlo). Segundo a escala de Jadad, a pontuação média dos ECAC foi de 4.3 (2/5).

 

Resultados: A suplementação com vitaminas e antioxidantes não se associou à redução do risco de eventos cardiovasculares major (RR 1.00, IC95% 0.98-1.02; I2=42%). Na análise por tipo de desfechos cardiovasculares, a suplementação com vitaminas e antioxidantes associou-se a um ligeiro aumento no risco de angina de peito, enquanto a suplementação com baixas doses de vitamina B6 associou-se a uma ligeira diminuição do risco de eventos cardiovasculares major. Os efeitos benéficos/prejudiciais desapareciam quando a meta-análise era realizada no subgrupo de ECAC de elevada qualidade. Adicionalmente, apesar da suplementação com vitamina B6 se ter associado a uma diminuição do risco de morte cardiovascular e a suplementação de vitamina E a uma diminuição do risco de enfarte do miocárdio, estes benefícios foram apenas observados nos ECAC cujos suplementos foram fornecidos pela indústria farmacêutica.

 

Conclusão: Os autores concluem que não existe evidência para suportar o uso da suplementação de vitaminas e antioxidantes na prevenção primária ou secundária das doenças cardiovasculares.

 

Comentário: Nas últimas décadas estudos observacionais reportaram que a ingestão de frutas e legumes ricos em vitaminas e antioxidantes reduzia o risco de doenças cardiovasculares. Porém, os ECAC realizados até então obtiveram resultados inconsistentes da eficácia da suplementação de vitaminas e antioxidantes nas doenças cardiovasculares. Esta meta-análise de grande escala destaca-se por procurar reunir e rever a informação relativa a todos tipos de suplementação com vitaminas e/ou antioxidantes. Os resultados obtidos entram em discrepância com os achados nos estudos in vitro e in vivo (animais), que inicialmente sugeriram que a suplementação descrita inibiria a aterosclerose. À luz da evidência atual parece ser mais sensato recomendar a ingestão de frutas e legumes integrada numa dieta saudável, ao invés da suplementação dos seus constituintes isolados.

 

                                                                                                                                                                 Artigo original

Prescrição Racional
Menu