Hiperemese gravídica: ondansetron ou metoclopramida?


Pergunta clínica: Em situações de hiperemese gravídica, qual o fármaco mais eficaz para controlo das náuseas e dos vómitos: ondansetron ou metoclopramida?

Enquadramento: A hiperemese gravídica é definida como vómitos graves e persistentes com emagrecimento superior a 5% do peso prévio à gravidez e cetonúria moderada a persistente. Ocorre em 0,3 a 2% das gestações.

Desenho do estudo: Estudo aleatorizado controlado duplamente cego que comparou o ondansetron (4 mg/dose) à metoclopramida (10mg/dose), intravenosos. A amostra era constituída por mulheres grávidas, com gestações até às 16 semanas (inclusive), que foram hospitalizadas por náuseas e vómitos intratáveis, com desidratação e cetonúria (classe ≥2) objectivadas, sem outra causa identificada. Foram definidos como critérios de exclusão a presença de gestação múltipla ou de gestação não-evolutiva, a presença de qualquer outra patologia cujo quadro clínico justificasse as náuseas ou vómitos, e a alergia conhecida a qualquer um dos dois fármacos. A primeira dose foi administrada logo que possível após a aleatorização e as 3 doses subsequentes foram administradas com intervalos de 8 horas nas 24 horas seguintes.

Resultados: Foram incluídas 160 mulheres no estudo, aleatoriamente divididas pelos dois grupos terapêuticos (ondansetron n=80 e metoclopramida n=80). Os dois principais outcomes foram semelhantes em ambos os grupos: [1] bem-estar mediano no final do estudo, descrito em função de uma escala visual analógica (0-10): 9 em ambos os grupos (p=0,33); e [2] número mediano de episódios de vómitos nas primeiras 24 horas: 1 para o ondansetron e 2 para a metoclopramida (p=0,38). O outcome secundário – prevalência de náuseas –  avaliado através de uma escala visual analógica a cada 8 horas, não mostrou diferenças entre os dois grupos em qualquer altura (p=0,22). O aparecimento de tonturas foi mais comum no grupo da metoclopramida (30% vs. 13%; p=0,01; número necessário a tratar para causar dano (NNTD) = 6), assim como a xerostomia (24% vs. 10%; p<0,01; NNTD=8) e a cetonúria persistente às 24 horas (30% vs. 12,5%; p=0,01; NNTD=6). A prevalência de insónia, vertigem, diarreia, cefaleias, palpitações e erupções cutâneas não foi significativamente diferente entre os grupos, assim como a duração do internamento.

Conclusão: O ondansetron e a metoclopramida são igualmente eficazes no controlo das náuseas e dos vómitos nas mulheres internadas por hiperemese gravídica. O ondansetron mostrou ser melhor tolerado, mas também mais dispendioso.

Comentário: O ondansetron e a metoclopramida demonstraram efeitos anti-emético e de controlo das náuseas semelhantes na hiperemese gravídica. No entanto, o perfil global, particularmente em relação a efeitos adversos, foi mais favorável para o ondansetron. No contexto deste estudo a metoclopramida foi significativamente mais barata do que o ondansetron, pelo que permanece como uma opção razoável para tratamento anti-emético.

Artigo original: Obstet Gynecol

Por Ana Mafalda Macedo, USF Prelada

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