Hugo Carvalho @ Bruxelas

 

 

Nome: Hugo Carvalho
Idade: 33 anos
Especialidade: Anestesiologia
Local: Bruxelas, Bélgica

Porque optaste por ir trabalhar para a Bélgica? E em que localidade estás a viver e a trabalhar?
No meu último ano de faculdade fiz ERASMUS em Gent durante 7 meses. Tendo já interesse em Anestesia antes de ingressar no intercâmbio, procurei activamente oportunidades de cooperação científica na disciplina, e acabei por contribuir para alguns estudos na clínica de dor crónica. Antes de regressar a Portugal, foi-me colocado o convite de ingressar na especialidade de Anestesia em Gent. Ainda que não fosse de maneira alguma uma opção que tivesse considerado até à altura, acabei por aceitar. Durante o meu treino como anestesista rodei por diferentes cidades e hospitais (Gent, Antuérpia, Brugges, Bruxelas), e agora trabalho como anestesista em Bruxelas. Tendo estado continuamente activo em termos de investigação, coordeno agora também algumas linhas de investigação no hospital onde trabalho.

Há quanto tempo estás na Bélgica e como foi a tua adaptação?
Estou na Bélgica há 7 anos. A adaptação foi, sinceramente, bastante boa. Ainda que existam noções pré-concebidas de “frieza” nórdica, não acho que sejam estritamente justificadas e sempre fui bem recebido. Naturalmente, coube-me a mim também fazer um esforço por aprender a língua e integrar-me, o que definitivamente acelerou o processo. Com espírito aberto, o resto veio naturalmente.

 

A exposição a diferentes subdisciplinas da Anestesia é extremamente variada dentro da própria semana, o que ajuda a manter as capacidades de um bom anestesista all-round.

 

Em relação à Anestesiologia e Intensivismo, quais as principais diferenças entre Portugal e a Bélgica? Da realidade que estás a vivenciar aí, o que gostarias de ver replicado em Portugal em termos de SNS?
Infelizmente, nunca pratiquei Anestesiologia e Intensivismo em Portugal, por isso não posso fazer uma comparação fundamentada, assim como sugerir implementações no SNS. O único insight que tenho é de colegas que praticam a especialidade em Portugal. A ideia que tenho (ainda que possivelmente não representativa) é que em Portugal a formação é de boa qualidade, ainda que mais rígida em termos de estrutura. Aqui recebemos autonomia e exposição relativamente cedo, o que pessoalmente acho bom. A exposição a diferentes subdisciplinas da Anestesia é extremamente variada dentro da própria semana, o que ajuda a manter as capacidades de um bom anestesista all-round. Em termos de carga horária, tenho a ideia que aqui é possivelmente um pouco mais intenso que em Portugal (pelo menos em teoria, porque acho que nem em Portugal as horas reais são as mesmas que as estipuladas por contrato). A base contratual é na maioria de 60 horas semanais, com máximos de 72 horas/semana. Turnos de 24 horas são legais. Pelo que tenho acompanhado em Portugal, acho que o principal ponto de atenção tem sido a abertura de novas faculdades de Medicina. Na Bélgica têm sido debatidas as entradas não proporcionais de estudantes nas faculdades de Medicina nas duas divisões federais principais da Bélgica (Flandres e Walonia) e as consequências negativas em termos de qualidade de especialização e precarização da profissão médica. Isto levou o governo a limitar as vagas de especialização. Um modelo semelhante existe na Holanda, no qual a alocação anual de vagas é feita com base num modelo de oferta e procura. Isto parece-me ser uma boa importação para Portugal.

Do que sentes mais falta de Portugal? Planeias regressar ?
Tirando a família e amigos, claro, gostava de ter cá o sol e a natureza Portuguesa. Como gosto de escalar e praticar montanhismo, não estou no país ideal para estes deportos. Não tenho planos imediatos de regresso. Sinto-me bastante bem aqui, integrado e com perspectivas de crescimento. Mas não digo nunca.

 

 

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