Inibidores da bomba de protões associam-se a maior risco de cancro gástrico

 

Pergunta clínica: Existe associação entre a utilização de inibidores da bomba de protões e cancro gástrico?

Desenho do estudo: Coorte retrospectivo, considerando o período compreendido entre 1 de janeiro de 1990 e 30 de abril de 2018, durante o qual foram identificadas 973,281 pessoas que receberam uma prescrição de novo de inibidores da bomba de protões e 193,306 pessoas que receberam uma prescrição de novo de antagonistas dos receptores H2, após exclusão de pacientes com história de síndrome familiar associada a cancro gástrico, história pessoal de cancro gástrico no passado e aqueles com período de seguimento inferior a um ano. Os pacientes foram emparelhados com recurso a scores que incorporaram grande número de potenciais confundidores, como sejam idade, comorbilidades, consumo de álcool e tabagismo, bem como a medicação em curso.

Resultados: O uso de inibidores da bomba de protões associou-se a um aumento de 45% do risco de cancro gástrico, comparativamente aos antagonistas dos receptores H2 (hazard ratio (HR)=1.45; intervalo de confiança (IC) 95% 1.06-1.98). O NNH (number needed to harm) aos 5 anos de tratamento foi de 2121 e o NNH aos 10 anos foi de 1191. Os resultados evidenciaram ainda que o risco aumentou de modo linear com a duração do uso de inibidores da bomba de protões.

Comentário: Trata-se da evidência mais robusta até ao momento de que doentes tratados com inibidores da bomba de protões podem ter um risco acrescido de cancro gástrico, comparativamente aos  antagonistas dos receptores H2 , apesar de o risco absoluto se manter baixo. De realçar a inclusão apenas de novos utilizadores dos medicamentos em apreço, o que permitiu eliminar viéses associados à inclusão de doentes já medicados cronicamente. Não obstante, no Reino Unido, onde o estudo foi realizado, os inibidores da bomba de protões e os antagonistas dos receptores H2 são medicamentos de venda livre, não sendo possível controlar completamente a medicação efectivamente realizada. Tendo em conta os resultados do presente estudo, será de ponderar a opção por um antagonista dos receptores H2, bem como a utilização de inibidores da bomba de protões na menor dose e duração possíveis. É ainda importante o acompanhamento regular para reavaliar a necessidade da manutenção do tratamento.

Artigo original: Gut

Por Carolina Pereira Caetano, USF Tornada

 

 

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