Intensificação da medicação anti-hipertensiva na alta hospitalar do idoso tem elevado risco de iatrogenia

 

 

Pergunta clínica: Em pacientes hipertensos idosos, a intensificação da medicação anti-hipertensiva na alta hospitalar reduz os eventos cadiovasculares e é segura?

Desenho do estudo: Estudo coorte, retrospectivo, de uma amostra de 14915 hipertensos de idade ≥ 65 anos, internados por motivos não cardíacos (pneumonia, infeção urinária e tromboembolismo venoso) e cujo regime medicamentoso anti-hipertensivo foi intensificado (medicação nova ou aumento da dose >20%) no momento da alta. Critérios de exclusão: doentes com diagnósticos de fibrilhação auricular, síndrome coronário agudo ou evento cerebrovascular agudo.

Resultados: Na amostra estudada, verificou-se intensificação da medicação anti-hipertensiva em 14% dos doentes, maioritariamente afro-descendentes e com pressão arterial superior tanto prévia ao internamento como durante, e insuficiência cardíaca. Os investigadores efectuaram ainda a comparação de 2028 pacientes em que se verificou a intensificação do tratamento com 2028 pacientes sem intensificação do tratamento. No grupo em que houve intensificação do tratamento, verificou-se uma maior percentagem de reinternamento hospitalar aos 30 dias (21% vs 18%; 95% CI 1.07 – 1.42, NNH=27), e também uma maior frequência de recurso ao serviço de urgência ou internamento por eventos adversos relacionados com a medicação aos 30 dias (4.5% vs. 3.1%; 1.06 – 1.88, NNH=63). Por outro lado, não se verificou uma redução de eventos cardiovasculares agudos ao fim de 1 ano no grupo em que o tratamento foi intensificado quando comparado com o grupo sem intensificação da terapêutica.

Conclusão:  A intensificação do tratamento anti-hipertensor não produziu efeitos benéficos, como por exemplo, a redução de eventos cardiovasculares e, por outro lado, aumentou o risco de reinternamento hospitalar e o risco de efeitos adversos relacionados com essa terapêutica.

Comentário: Este estudo vem alertar para a pertinência da reconciliação da medicação tal como é descrito na literatura e nas normas de orientação. A norma da Direção Geral da Saúde n.º 018/2016 salienta a “abordagem sistemática para a reconciliação da medicação, envolvendo uma equipa multidisciplinar (…) nos pontos vulneráveis/críticos de transição de cuidados, nomeadamente na admissão e alta hospitalar e na transferência intra/inter instituições prestadoras de cuidados de saúde”. Por outro lado, saliente-se o número necessário para dano relativamente baixo. Em doentes idosos, a intensificação da terapêutica ant-hipertensora na alta hospitalar tem um risco elevado de iatrogenia.

Artigo original:JAMA Intern Med

Por Cláudia Silva, USF + Carandá

 

 

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