Isabel Santos

Leituras médicas e outras (em simultâneo): “Como decidimos” de Jonah Lehrer, Editado pela Lua de Papel /Leya.

Todos os dias se tomam decisões. Essas decisões podem servisíveis ou invisíveis. Em Medicina só trabalhamos as visíveis e quandonos debruçamos sobre os processos de decisão cremos que estes se resumema fluxogramas e que dependem da informação de que dispomos.

Apesar de em Medicina lidarmos muito mais com a incerteza doque com a certeza em geral , não encorajamos os argumentosconflituantes e temos tendência para silenciar a dissonância cognitiva.Esta, pequena, introdução serve, tão só, para justificar o meu gosto porlivros sobre esta temática. Acabo de ler o livro “Como decidimos” deJonah Lehrer, editado pela Lua de Papel /Leya.

Este livro, diz Steven Jonhson no editorial do Sunday BookReview do jornal New York Times, vê ao microscópio as nossas aptidões natoma de decisões. O seu autor, de 27 anos de idade, é um prodígio dadivulgação cientifica popular, que já em 2007 publicou “Proust era umneurocientista”, também traduzido em português. A tese deste livropoderia resumir-se a que por vezes raciocinamos ponderando as nossasopções através das suas diferentes possibilidades e outras vezesprecisamos ouvir as nossas emoções.

À medida que se obtêm mais conhecimento na área dasneurociências mais livros vão surgindo sobre razão e emoção. O que estelivro nos traz e que complementa outros é uma visão de dentro,saltitando entre os trabalhos mais recentes sobre a estrutura do cérebroe a função dessas estruturas. Ficamos a saber sobre o núcleusaccumbens, o córtex prefrontal e a lingula. Muitas das experiências quenos são dadas a conhecer utilizaram a Ressonância Magnética cerebral noprocesso de tomar uma decisão.

Explicar a tomada de decisão de uma forma acessível, emjeito de livro de fim-de-semana relaxante, utilizando a escala neuronal,é um desafio que o autor vence de forma confiante e com humor elegante.Mesmo para quem já leu o “Erro de Descartes” de António Damásio ou a“Inteligência Emocional” de Daniel Goleman, entre outros, e reconheçaalguns exemplos clássicos, este livro leva-nos um pouco mais longe nacompreensão de algumas decisões.

Uma das questões importantes levantadas é o papel darecompensa “as certezas são agradáveis e as convicções firmesrecompensam” e “quem tem certezas não está preocupado em errar”. Umalista longa de experiências mostra as partes distintas do nosso cérebroque são activadas se a perda potencial se situa a curto prazo ou a longoprazo (pagar com dinheiro ou com o cartão de crédito faz toda adiferença).

Quando não temos recompensas sentimo-nos deprimidos. Existeum circuito de recompensa no nosso cérebro e daí a questão “o que ganhose decidir desta ou daquela forma?”Aprender que este processo é mediadopela dopamina não resolve o dilema mas ajuda-nos a perceber que as boasdecisões raramente surgem de um falso consenso e que temos como o disseAlfred P. Sloan de “dar asas à discordância e adquirir provavelmentealguma compreensão” para se acordar numa boa decisão.

À medida que fui progredindo na leitura fui-me colocandovárias questões, entre elas destaco a escolha da Medicina Geral eFamiliar. Lidamos em simultâneo com um amplo campo de incerteza e temosque tomar centenas de diferentes decisões diariamente.

A tomada de decisão é isolada. Isto é pouco compensador emuito desconfortável. É certo que reduzimos o desconforto da incertezareduzindo artificialmente o número de decisões carregando assim no botãoda rotina. A escolha de qualquer um destes dois caminhos trazdissabores. Vou poupá-los às minhas diversas reflexões esperando assimque não se distraíam e leiam este livro. Quem quiser saber um pouco maisantes de se lançar na leitura vá a http://fora.tv/2010/01/05/jonah_Lehrer_How_We_Decide e ouvirá o próprio autor falar desta sua obra.

Livros
Menu