Estudo RCT: lombalgia aguda




Pergunta clínica: Nas pessoas com lombalgia aguda, qual o tratamento mais eficaz e seguro: AINE isolado, AINE + relaxante muscular ou AINE + opioide?

Enquadramento: A lombalgia aguda é uma entidade frequente e está associada a elevados custos em saúde, incapacidade e absentismo laboral. Os esquemas terapêuticos mais usados incluem anti-inflamatórios não esteroides, relaxantes musculares e opióides, muitas vezes em regime combinado. O “Roland Morris Disability Questionnaire” é um questionário para avaliar a incapacidade funcional dos doentes com lombalgia nas suas atividades. É constituído por 24 perguntas de auto-resposta, dicotómica e com tempo de preenchimento inferior a 5 minutos. O resultado pode variar entre 0 (sem queixas) a 24 (limitação grave). O questionário encontra-se adaptado e validado para a língua portuguesa.

Desenho do estudo: Estudo randomizado, controlado e duplamente cego, realizado entre Abril de 2012 e Dezembro de 2014 com uma amostra de 323 adultos entre 21 e 64 anos que se dirigiram a um serviço de urgência (SU) de Nova Iorque por lombalgia aguda. Esta foi definida clinicamente como dor aguda de origem músculo-esquelética localizada entre o bordo inferior da escápula e as pregas glúteas superiores. Critérios de exclusão: dor radicular localizada inferiormente às pregas glúteas, trauma direto no dorso no mês anterior, duração da dor superior a 2 semanas e história recente de mais de um episódio de dor lombar por mês. Todos os doentes elegíveis foram alocados a 1 de 3 grupos de tratamento: 1) naproxeno(500 mg 2id, 10 dias) + placebo; 2) naproxeno (500 mg 2id, 10 dias)
+ ciclobenzaprina(5 mg); 3) naproxeno(500 mg 2id, 10 dias) + oxicodona/ paracetamol(5mg/ 325 mg,1 ou 2 comprimidos; 8/8 horas). Os doentes foram reavaliados através do “Roland Morris Disability Questionnaire”: 96% dos participantes ao fim de 7 dias e 87% após 3 meses.

Resultados: Não houve diferença estatisticamente significativa nos 3 grupos quanto à dor ou incapacidade funcional aos 7 dias e aos 3 meses após a alta do SU. Não houve diferença estatisticamente significativa na necessidade de recorrer novamente a cuidados de saúde. Houve diferença estatisticamente significativa quanto aos efeitos adversos sentidos (tonturas, vertigens, dispepsia, náuseas ou vómitos) tendo sido mais frequentes no grupo medicado com a associação oxicodona/paracetamol (número necessário tratar para causar dano [NNH] 5.3; 95% CI 3-14) e no grupo medicado com ciclobenzaprina ([NNH] = 7.8; 4-219) comparados com o grupo que tomou naproxeno e placebo.

Comentário: O naproxeno isolado no tratamento da lombalgia aguda demonstrou eficácia semelhante no alívio da dor e incapacidade funcional em comparação com o mesmo usado em combinação com um relaxante muscular ou em combinação com opióides. Os efeitos adversos foram mais frequentes nos grupos com fármacos associados. A iatrogenia médica é um tema de importância crescente na atualidade. Cada vez mais o médico deve procurar não só que as suas ações sejam benéficas mas também que não causem prejuízo à pessoa que o procura. Assim e visando o máximo de benefício e segurança para o doente, estes achados não suportam o uso de medicamentos em associação ao naproxeno nesta entidade clínica.

Artigo original:JAMA

Por Joana Penetra, USF Topázio 





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