Medição Convencional da Tensão Arterial versus Medição Automática em Doentes de Cuidados de Saúde Primários com Hipertensão Arterial Sistólica

Lígia Torres Lima, USF São João de Sobrado

O estudo Conventional versus Automated Measurement of Blood Pressure in the Office(CAMBO) compara o efeito da medição automática (MA) da tensão arterial (TA) em doentes com hipertensão arterial (HTA), na consulta de Cuidados de Saúde Primários (CSP), com a medição manual (MM), por um período de dois anos.

O artigo Conventional versus Automated Measurement of Blood Pressure in Primary Care Patients with Systolic Hypertension: Randomised Parallel Design Controlled Trial, publicado no British Medical Journal, apresenta resultados da primeira fase do CAMBO. 

Este ensaio incluiu 555 doentes com HTA sistólica (>45 anos, sem comorbilidades importantes, sem história de má adesão terapêutica, com creatinina sérica inferior ao dobro do normal e que não mediam a TA no domicílio), sob o cuidado de 88 médicos de CSP, de 67 instituições clínicas da comunidade, em 5 cidades do este do Canadá.

Foi registado o valor de TA da última consulta pré-estudo (C0) – os doentes sem tratamento teriam que ter TA sistólica (TAs) >= 160 mmHg e diastólica (TAd) <= 95 mmHg e os doentes tratados TAs>= 140mmHg e TAd<=90mmHg.

Realizou-se Medição Ambulatória da Pressão Arterial – MAPA antes da primeira consulta após início do estudo (C1), sendo calculada a média dos valores do “período acordado” (mean awake blood pressure).

No grupo controlo foi feita a MM da TA na C1, sem que fossem dadas instruções aos profissionais sobre a técnica de medição. No grupo de intervenção, o doente era colocado sozinho num gabinete e eram feitas 5 MA em intervalos de 2minutos.

Os valores obtidos nas medições feitas em consultório foram comparados antes e após o início do estudo nos dois grupos e com os obtidos no MAPA. 

Os resultados demonstraram que:

– a MM registada na C0 foi superior à MA;

– no grupo controlo houve descida do valor da TA da C0 para a C1;

– a TA foi significativamente inferior no grupo de intervenção, comparando com o grupo controlo;

– os valores obtidos no grupo de intervenção tiveram maior correlação com o MAPA que os do grupo de controlo

Os resultados apresentados apoiam a MA da TA em detrimento da MM. A descida dos valores da TA no grupo de controlo da C0 para C1 pode ter-se devido a vários factores, nomeadamente, maior adesão ao tratamento após inclusão no estudo ou alteração da forma de leitura pelos profissionais.

O efeito de “bata branca” foi eliminado na MA, uma vez que o doente ficava sozinho. Contudo, na realidade que conhecemos, nem sempre é possível despender de mais tempo nem ter mais que um gabinete disponível, com ambiente calmo. Por outro lado, não foram dadas instruções aos profissionais sobre a correcta MM da TA, o que certamente teria melhorado a qualidade das avaliações.

Fica o alerta para o facto de alguns utentes poderem estar desnecessariamente medicados, por um diagnóstico de HTA feito sob um efeito de “bata branca”.

Neste ensaio foram apenas incluídos doentes sem outras patologias relevantes, sendo necessários mais estudos para que os resultados possam ser extrapolados a outras populações.

A não perder
Menu