Paracetamol vs ibuprofeno em crianças com asma moderada




Pergunta clínica: Nas crianças com asma moderada persistente, e com idade entre os 12 e os 59 meses (4 anos e 11 meses), o uso de paracetamol associa-se ao aumento da morbilidade, comparativamente ao ibuprofeno?

Enquadramento: O paracetamol é um dos fármacos mais utilizados para o tratamento da febre ou dor em crianças. Alguns estudos observacionais sugeriam uma associação entre o uso de paracetamol e o desenvolvimento ou agravamento da asma, comparativamente ao uso de ibuprofeno. Este achado levou a que alguns médicos recomendassem a evicção do uso de paracetamol em crianças com asma até nova evidência.

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado, multicêntrico, duplamente cego. A amostra constituiu-se por 300 crianças, entre os 12 e os 59 meses de idade, com asma moderada persistente, aleatorizadas em 2 grupos e seguidas durante 46 semanas. Um dos grupos recebia paracetamol, o outro ibuprofeno para intercorrências como febre ou dor. O marcador primário consistiu na contabilização do número de exacerbações que necessitaram da administração de glucocorticóides sistémicos. Como marcadores secundários, recolheram a percentagem de dias com controlo da asma, média de dias de uso de medicação de resgate (salbutamol) e frequência de utilização de cuidados de saúde não programados.

Resultados: Após 46 semanas de seguimento, cada criança realizou em média 5,5 doses do fármaco em estudo. Verificando-se ausência de diferença no número de exacerbações entre as crianças que receberam paracetamol (0,81 exacerbações – IC 95%; 0,65-1,02) vs ibuprofeno (0,87 exacerbações – IC 95%; 0,69-1,10). O risco relativo de exacerbações com o uso de paracetamol vs ibuprofeno foi de 0,94 (IC 95%; 0,69-1,28; p=0,67). Similarmente, não se verificou diferença na percentagem de dias de controlo da asma (85,8% paracetamol vs 86,8% ibuprofeno; p=0,50); número de inalações de albuterol por semana (2,8 paracetamol vs 3,0 ibuprofeno; p=0,69); número de episódios de utilização de cuidados de saúde não programados (0,75 paracetamol vs 0,76 ibuprofeno; p=0,94) ou efeitos adversos.

Comentário: O estudo permitiu concluir que o uso de paracetamol não agrava a asma moderada persistente em crianças dos 12-59 meses, comparativamente ao ibuprofeno. Todavia, não permite concluir sobre o efeito do paracetamol em outros graus de asma, nem em outras idades, sendo necessários mais estudos. Adicionalmente, também não conclui se ambos os fármacos agravam a asma, pois não seria ético desenhar um estudo com um grupo placebo. Todavia o número de exacerbações aproxima-se da de outros estudos, suportando a ideia que nenhum dos fármacos agrava a asma.  

Artigo original: NEJM




Por Vanessa Moreira, USF Prado 




Prescrição Racional
Menu