Prevenção da recorrência da litíase renal: revisão sistemática

Por Célia Oliva, USF Além D´Ouro

 

Pergunta clínica: quais os riscos e benefícios das intervenções profiláticas da litíase renal recorrente?

Desenho do estudo: Revisão Sistemática do American College of Physicians, usando a escala de evidência da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ)

Resultados: Em pacientes com 1 episódio prévio de cálculos de cálcio há evidência (com baixa força de recomendação) de que o aumento da ingestão de fluidos diminui para metade o risco de recorrência comparativamente com a ausência de tratamento (RR 0.45). De igual modo há evidência, com baixa força de recomendação, de que a redução do consumo de refrigerantes diminui o risco de litíase recorrente (RR 0.83), embora o benefício possa estar limitado aos que consomem maioritariamente refrigerantes acidificados pelo ácido fosfórico. Em pacientes com múltiplos cálculos de cálcio prévios, há evidência moderada de que o uso de tiazidas (RR 0.52), citratos (RR 0.25) e alopurinol (RR 0.59), diminuem o risco de recorrência de cálculos comparativamente com placebo. Não obstante, o benefício do alopurinol está restrito aos pacientes com hiperuricemia ou hiperuricosúria de base. Foi encontrada evidência, com baixa força de recomendação, de que a associação de citrato ou alopurinol às tiazidas não é superior em eficácia das tiazidas isoladamente. Como limitações do estudo refere-se o facto da maioria dos participantes nos ensaios clínicos ter cálculos de cálcio idiopáticos e nenhum ensaio clínico ter estudado o risco de recorrência em função da composição do cálculo.

Conclusões: Em pacientes com um cálculo de cálcio prévio, o aumento da ingestão de fluidos reduz o risco de recorrência. Em pacientes com múltiplos cálculos de cálcio o uso concomitante de tiazidas, citrato ou alopurinol reduzem o risco de recidiva.

Comentário: A litíase renal é uma entidade muito comum, sendo a incidência ao longo da vida de 13% para os homens e 7% para as mulheres e a taxa de recorrência aos 5 anos, após o primeiro evento, de 35-50%. Em pacientes com litíase assintomática, 11 a 32% vêm a desenvolver sintomas, constituindo um importante motivo de recurso aos serviços de saúde. Como a formação dos cálculos urinários se deve a uma disfunção metabólica crónica, uma vez formado um primeiro cálculo, existe susceptibilidade de formação de novos cálculos (mesmo que o primeiro seja removido) e daí a grande importância de medidas de prevenção e tratamento médico. Ainda assim, como limitações destaca-se a fraca força de evidência das medidas descritas e a baixa adesão às medidas instituídas em indivíduos que se encontram assintomáticos.

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