Estudo RCT: rastreio do cancro da próstata





Pergunta clínica: Qual o impacto de uma única determinação do antigénio específico da próstata (PSA) em 10 anos na mortalidade por neoplasia da próstata?


População: homens com idade entre os 50 e os 69 anos de idade, sem antecedentes de cancro da próstata

Intervenção: determinação de antigénio específico da próstata (PSA)
Comparação: rastreio único de PSA vs não rastreio
Outcome: mortalidade específica por cancro da próstata (outcome primário). Estadio do diagnóstico de cancro da próstata, grau de Gleason e mortalidade por qualquer causa.

Enquadramento: Alguns estudos mostram que o rastreio através do PSA reduz a mortalidade por neoplasia da próstata. Mantém-se, no entanto, o debate entre o benefício na mortalidade e os riscos causados pelo sobrediagnóstico e sobretratamento.

Desenho do estudo: Ensaio clínico randomizado, realizado na Inglaterra, aos homens com idade entre os 50 e os 69 anos de idade, sem antecedentes de cancro da próstata. Neste estudo, com a duração de 10 anos, foram constituídos dois grupos, um grupo de intervenção submetido a um único rastreio de PSA vs controlo, não submetido a rastreio por PSA. Aos homens com PSA ≥ 3 ng/ml foi realizada ecografia transrectal e biópsias guiadas.

Resultados: Dos 415 357 homens randomizados (média idade, 59 anos) foram incluídos na análise (n = 408 825; 98%), 189 386 no grupo intervenção e 219 439 no grupo controlo. No grupo de intervenção, 67 313 (36%) foram submetidos a teste de PSA. Destes, 64 436 com um resultado PSA válido, 6857 (11%) tinham um nível de PSA entre 3 ng / mL e 19,9 ng / mL, dos quais 5850 (85%) realizaram biópsia prostática. Depois de um seguimento de 10 anos, 549 (0,30 por 1000 pessoas/ano) morreram de neoplasia prostática no grupo de intervenção vs 647 (0,31 por 1000 pessoas/ano) no grupo controlo (diferença de − 0,013 por 1000 pessoas/ano [IC 95%, −0,047 a 0,022]; [RR], 0,96 [IC 95%, 0,85 a 1,08]; P = 0,50). A proporção de homens diagnosticados com neoplasia da próstata foi maior no grupo de intervenção (n = 8054, 4,3%) do que no grupo de controlo (n = 7853, 3,6%), (RR, 1,19 [IC95%, 1,14 a 1,25]; P <0,001). Um maior número de neoplasias da próstata com grau de Gleason ≤ 6, foram identificados no grupo intervenção (n = 3263/189 386 [1,7%]) do que no grupo controlo (n = 2440/219 439 [1,1%]) (diferença por 1000 homens, 6,11 [IC 95%, 5,38 a 6,84]; P <0,001). Na análise de todas as causas mortalidade, houve 25 459 mortes no grupo de intervenção vs 28 306 mortes no grupo de controlo (RR, 0,99 [IC 95%, 0,94 a 1,03]; P = 0,49).

Conclusão: Uma única intervenção de rastreio de PSA detetou um maior número de casos de neoplasia da próstata, mas não apresentou diferença estatisticamente significativa na mortalidade por neoplasia da próstata, num follow-up de 10 anos.

Comentário: Este estudo não demonstrou eficácia do rastreio com uma determinação isolada de PSA. No entanto, os testes levaram a um aumento significativo na detecção de cancro da próstata de baixo grau e em estadio inicial, especialmente entre homens mais jovens. Presumivelmente, muitos desses homens experimentaram aumento da ansiedade e podem ter sofrido intervenções desnecessárias, resultando em aumento da morbilidade, incluindo incontinência e impotência.
A determinação do PSA deve ser enquadrada no âmbito de uma decisão médica partilhada e individualizada. Devemos
informar o cidadão sobre o que é um rastreio e quais os benefícios e malefícios de uma forma adequada ao nível de literacia.

Artigo original: JAMA 

Por Margarida Simões, UCSP Penacova. Nuno Miguel, UCSP Dr. Manuel Cunha  




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