Síndrome das pernas inquietas: guideline



Pergunta clínica: Quais os tratamentos efetivos no controlo dos sintomas e consequências clínicas da síndrome das pernas inquietas, nos adultos?

Enquadramento:A síndrome das pernas inquietas é uma doença do movimento, caracterizada pela urgência em mover as pernas ou os braços em resposta a disestesias. A maioria dos doentes apresenta movimentos periódicos dos membros durante o sono, causando alterações do sono, perturbação do humor e ansiedade, diminuição da qualidade de vida e perda de produtividade.

Desenho do estudo: Guidelines resultantes de revisão da evidência científica tendo sido aplicada a escala de evidência de 2004 da Academia Americana de Neurologia. A avaliação da eficácia terapêutica baseou-se num aumento de três pontos na escala de classificação do grupo internacional do estudo das pernas inquietas. Nos estudos com polissonografia, a eficácia terapêutica baseou-se no índice de movimento periódico dos membros, na avaliação subjetiva da qualidade do sono, sintomas psiquiátricos e efeito sobre a qualidade de vida.

Resultados: Os fármacos recomendados com evidência forte (nível de evidência A) são: o pramipexol, rotigotina, cabergolina e gabapentina. Com evidência moderada (nível de evidência B) podem ser prescritos o ropinirol, pregabalina e carboximaltose férrica. A levodopa pode ser uma opção (ainda que com um nível de evidência C).

Visando a melhoria dos movimentos periódicos dos membros durante o sono, considerar o ropinirol (nível de evidência A) ou pramipexol, rotigotina, cabergolina e pregabalina (nível de evidência  B).

Para as alterações subjectivas do sono sugere-se a cabergolina e gabapentina (nível de evidência  A) ou ropinirol, pramipexol, rotigotina e pregabalina (nível de evidência  B).

Quantos às terapêuticas não farmacológicas para as alterações subjectivas do sono considerar a compressão pneumática (nível de evidência  B), espectroscopia de infravermelho ou estimulação magnética transcraniana (nível de evidência  C) e almofadas vibratórias (nível de evidência  C).

Na melhoria dos sintomas psiquiátricos, recomenda-se: na ansiedade o ropinirol (nível de evidência  B) ou  pramipexol (nível de evidência  C) ; na depressão o ropinirol, pramipexol (nível de evidência  C) e na perturbação generalizada do humor a  gabapentina (nível de evidência  B). Na melhoria da qualidade de vida sugere-se ropinirol, pramipexol, cabergolina gabapentina, carboximaltose férrica endovenosa (nível de evidência  B) e rotigotina e pregabalina (nível de evidência  C).

Em caso de falência terapêutica ponderar a prescrição de oxicodona/naloxona de libertação prolongada (nível de evidência  C). Doentes com com níveis de ferritina ≤ 75 μg/L é aconselhando sulfato ferroso com vitamina C (nível de evidência  B). Nos doentes hemodialisados há benefício dos suplementos de vitamina C e E (nível de evidência  B), do ropinirol, levodopa e exercício físico (nível de evidência  C).

Ressalva-se a necessidade de avaliação de comorbilidades e dos potenciais riscos destes fármacos, nomeadamente o risco de valvulopatias da cabergolina em altas doses.

Conclusão: A prescrição famacológica deve considerar-se na síndrome das pernas inquietas moderada a severa, visando a redução dos sintomas mais incapacitantes.

Comentário: A inexistência de instrumentos de eficácia terapêutica, relevantes para a prática clínica, limita-nos a translação destas recomendações para a prática clínica. Mais, a maioria dos ensaios são de curta duração, não estabelecendo dados sobre eficácia e riscos a longo prazo. Adicionalmente a maioria dos ensaios exclui pacientes com comorbilidades como transtornos de humor e ansiedade, neuropatia periférica e as grávidas, sendo a generalização dos resultados para esta população incerta. Assim, é importante o desenvolvimento de mais estudos com vista a optimizar as orientações terapêuticas.

Artigo original: Neurology

Por Vanessa Moreira, USF Prado 


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