Substâncias ilícitas: como reduzir consumo?


Pergunta clínica: A identificação e intervenção breve reduzem o consumo de substâncias ilícitas e abuso de medicamentos?  

Desenho do estudo: Ensaio clínico aleatorizado com o objetivo de testar a eficácia de dois modelos de intervenção breve: o Brief negotiated interview (BNI) e o Motivational interviewing (MOTIV). O BNI consiste numa entrevista de 10 a 15 minutos estruturada conduzida por profissionais formados em educação para a saúde; o MOTIV é uma intervenção de 30 a 45 minutos com base numa entrevista motivacional com um reforço de 20 a 30 minutos, conduzida por profissionais com o grau de mestre em educação para a saúde. Foram identificados, entre Junho de 2009 e Janeiro de 2012, 528 utentes adultos de cuidados de saúde primários através do projeto ASSIST (Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test). Os doentes foram divididos aleatoriamente em 3 grupos: grupo BNI, grupo MOTIV e grupo sem qualquer intervenção.

Resultados: 63% dos participantes relataram como substância mais consumida a marijuana, 19% cocaína e 17% opióides. Aos 6 meses, 98% completaram o seguimento. O número médio de dias de consumo (da principal substância) foi de 12 no grupo sem intervenção vs 11 para o grupo BNI (taxa de incidência [TIR], 0,97; 95% CI, 0,77-1,22) e 12 para o grupo MOTIV (TIR 1,05; IC 95%, 0,84-1,32; P= 0,81 para ambas as comparações contra qualquer intervenção breve). Não se verificaram efeitos significativos tanto do BNI, como do MOTIV em análises estratificadas por substância mais consumida ou gravidade do consumo.

Conclusão: Estes resultados não suportam a implementação generalizada da intervenção breve sobre o consumo de substâncias ilícitas e uso inadequado de substâncias de prescrição obrigatória no âmbito dos cuidados de saúde primários.

Comentário: este artigo leva-nos a refletir sobre o papel e a importância do médico de família nestas situações. Os dados anteriormente apresentados, apontam para uma ineficácia aparente da intervenção breve nestes casos ao nível dos cuidados de saúde primários. No entanto, mantém-se de primordial importância tanto a detecção e referenciação precoce destes utentes, como a avaliação do impacto global do abuso de substâncias na saúde do doente, no ambiente familiar e no meio sócio-cultural em que se insere. Numa fase posterior, é também necessária a promoção da adopção de um estilo de vida saudável, vigilância da adesão aos tratamentos com cumprimento zeloso das terapêuticas propostas e reabilitação do indivíduo.

Artigo original:JAMA

Por André Lourenço, USF Modivas 




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