Testar para tranquilizar?

 

Pergunta clínica: qual o efeito dos testes de diagnóstico em doentes sem sintomas de doença grava (baixa probabilidade pré-teste – testes efectuados apenas para tranquilização dos doentes) na ansiedade, na persistência dos sintomas e na posterior utilização de recursos de saúde?

Desenho do estudo: Revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados. 

Resultados: Preencheram os critérios de inclusão 14 ensaios clínicos aleatorizados e controlados (ECAC) que incluíram 3828 pacientes. A maioria dos estudos avaliou a eficácia da endoscopia e radiologia para a dispepsia; imagiologia na lombalgia, eletrocardiograma e estudo analítico para a precordialgia; a ressonância magnética no caso de cefaleias crónicas, entre outros. Três dos estudos não evidenciaram qualquer impacto dos testes de diagnóstico na preocupação com a doença e dois deles não mostraram nenhum efeito sobre a ansiedade. Onze estudos não mostraram qualquer efeito global a longo prazo sobre a persistência dos sintomas (ie, “teste terapêutico”). Havia heterogeneidade significativa entre alguns dos estudos. Uma meta-análise mostrou uma pequena redução nos atendimentos em ambulatório (odds ratio = 0,77, IC, 95% 0,62 – 0,96). Na prática, este efeito traduz-se em uma visita a menos para cada 16 pacientes com dispepsia e uma visita a menos para cada 26 pacientes com lombalgia.

Comentário: Segundo este artigo, os testes de diagnóstico não tranquilizam os doentes com baixa probabilidade de doença grave, além de não diminuírem os seus sintomas crónicos. Este é mais um dado que reforça a importância da prevenção quaternária, não só na gestão dos parcos recursos que temos à nossa disposição, mas principalmente na gestão das “angústias” dos utentes que recorrem aos serviços de saúde.

Artigo original

 Por Ricardo Rocha, UCSP Moimenta da Beira


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