Tratamento do refluxo: dieta vs IBP



Pergunta clínica: Nos doentes com doença de refluxo gastroesofágico com sintomas de refluxo laringofaríngeo, poderá o tratamento não farmacológico (com dieta mediterrânica e água alcalina) ser eficaz no controlo dos sintomas?

Desenho do estudo: Estudo retrospetivo que envolveu a consulta dos registos clínicos de duas coortes de tratamento. Entre 2010 a 2012, 85 doentes com refluxo laringofaríngeo foram tratados com inibidor da bomba de protões e medidas de aconselhamento geral (evicção de café, chá, chocolate, refrigerantes, alimentos hiperlipídicos, fritos, picantes e bebidas alcoólicas). De 2013 a 2015, 99 doentes foram tratados unicamente com medidas não farmacológicas que incluíram: consumo de água alcalina (pH >8.0), dieta mediterrânica e medidas de aconselhamento geral. O marcador (outcome) primário considerado foi a melhoria dos sintomas após 6 semanas de tratamento segundo a pontuação do “Reflux Symptom Index”.

Resultados: Em ambos as coortes, foi verificada uma melhoria clinicamente significativa (redução ≥ 6 pontos no “Reflux Symptom Index”), estando a mesma presente em 62.6% dos indivíduos do grupo tratado com medidas não farmacológicas e em 54.1% dos do grupo medicado com inibidor da bomba de protões. A diferença entre os grupos foi de 8.05%; IC 95%: -5.74 – 22.76. A redução média no Reflux Symptom Index foi de 27.2% na coorte tratada com inibidor da bomba de protões e de 39.8% na coorte tratada com água alcalina e dieta mediterrânica (diferença de 12.10; IC 95% 1.53 – 22.68).

Conclusão: Considerando a percentagem de pessoas que atingiu uma melhoria clinicamente significativa, não se verificou uma diferença estatisticamente significativa entre a coorte tratada com o inibidor da bomba de protões e a coorte tratada com a água alcalina e dieta mediterrânica. Considerando a redução média no índex de sintomas, os resultados favorecem a terapêutica não farmacológica. A abordagem não farmacológica pode controlar os sintomas nos doentes com doença de refluxo gastroesofágico com sintomas de refluxo laringofaríngeo, além de ter as vantagens de comportar um custo menor, de se evitar os efeitos adversos da medicação e de poder trazer outros benefícios para a saúde devido à exposição a uma dieta saudável.

Comentário: Existem algumas limitações relevantes neste estudo tais como: ausência de instrumentos de identificação e avaliação dos doentes e reavaliação apenas após 6 semanas de tratamento. Seria relevante o desenho de estudos prospetivos que correlacionem os achados subjetivos do utente com dados objetivos, assim como a diferenciação entre os inibidores da bomba de protões, dieta mediterrânica, aconselhamento geral e água alcalina isoladamente, de forma a poder estabelecer concretamente o benefício de cada um deles.

Artigo original: JAMA Otolaryngol Head Neck Surg

Por Andreína Fernandes, USF Atlântico Norte 





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