Terceira dose de VASPR durante surto de parotidite




Pergunta clínica: Será que a inoculação de uma terceira dose da vacina contra sarampo, parotidite epidémica e rubéola (VASPR), durante um surto de parotidite epidémica, reduz a probabilidade de infeção subsequente?

Enquadramento: Nos Estados Unidos da América é frequente a existência de surtos de parotidite entre a população estudantil de universidades e colégios, apesar de taxas superiores a 90% de vacinação prévia para a parotidite epidémica com duas doses, integrada no plano nacional de vacinação. O efeito de uma terceira dose da vacina VASPR na tentativa de controlo de um surto de parotidite epidémica é desconhecido.

Desenho do estudo: Durante um surto entre estudantes vacinados na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos da América, os profissionais de saúde da instituição implementaram uma campanha de vacinação com VASPR de uma forma generalizada. Foi então avaliada a eficácia de uma terceira dose no controlo de um surto e foi também avaliada a imunidade decrescente após a vacinação (primeiras duas doses). Foi utilizado o teste exato de Fisher para comparar as taxas de ataque não ajustadas, de acordo com o número de doses inoculadas e o número de anos desde a inoculação da segunda dose de VASPR. Foi utilizado o modelo multivariável de regressão de Cox dependente do tempo, para avaliar a eficácia da vacina, de acordo com o número de doses inoculadas (três versus duas doses e duas versus nenhuma dose) depois do ajuste para o número de anos desde a segunda dose.

Resultados: Dos 20496 estudantes universitários matriculados durante o ano letivo de 2015-2016, foi diagnosticada parotidite em 259 alunos. Dos 19705 estudantes que tinham recebido duas doses da vacina VASPR antes da ocorrência do surto de parotidite, 4783 receberam uma 3ª dose no âmbito da campanha de vacinação. A taxa de ataque foi menor entre os que receberam a 3ª dose em relação aos que receberam duas (6,7 versus 14,5 casos por 1000 estudantes, P <0,001). Os que tinham recebido a 2ª dose de VASPR há 13 ou mais anos antes do surto tiveram um risco 9 vezes superior de contrair parotidite. Aos 28 dias após a vacinação, a inoculação da 3ª dose foi associada a um risco 78,1% menor de contrair parotidite em relação aos que tinham feito duas doses (razão de risco ajustada, 0,22; intervalo de confiança de 95%, 0,12 a 0,39). A eficácia da vacina de duas doses versus nenhuma foi menor entre os estudantes com uma inoculação da segunda dose de vacina há mais tempo.

Conclusão: Os estudantes que receberam a terceira dose de VASPR tiveram um menor risco de contrair parotidite. Os estudantes que tinham sido inoculados com a segunda dose 13 ou mais anos antes do surto tinham um risco maior de contrair parotidite. Estes achados sugerem que a campanha para administrar uma terceira dose melhorou o controlo do surto e que a imunidade decrescente ao longo dos anos, provavelmente, contribui para a sua propagação.

Comentário: Provou-se eficaz a inoculação de uma terceira dose de VASPR no controlo do surto, conferindo uma maior imunidade individual e de grupo. Apesar de na nossa realidade não se registarem surtos deste tipo frequentemente, trata-se de uma informação útil para reflectir sobre o nosso plano nacional de vacinação, e na importância de promover continuamente a vacinação. Com o avançar da idade e tal como é registado com outras vacinas, pode verificar-se uma perda parcial da imunidade, e ser necessário um reforço. Estes estudos são importantes para moldar o plano nacional de vacinação face às evidências, de forma a conseguirmos manter uma boa imunidade para as doenças nele contempladas.

Artigo original: N Engl J Med

Por Luís Paixão, USF Coimbra Centro 



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