Dra. Vera Barbosa @ Oxford

Porque optaste ir trabalhar para Oxford?

Optei por Oxford pela qualidade da investigação e a aposta na educação médica no Reino Unido. Desde há algum tempo que me interesso por investigação. Oxford pareceu-me a opção mais interessante para progredir no meu treino médico porque oferece a possibilidade de trabalhar com excelentes clínicos que são também excelentes investigadores.

O ensino da prática clinica é baseado em casos práticos reais  e em evidence based medicine e existe oportunidade para médicos mais inexperientes participarem na elaboração de procedimentos, auditorias e serviços de melhoria de qualidade.

Há quanto tempo estás em Oxford e pensas ficar por quanto tempo?

Inicialmente, completei o meu curso de medicina pela Universidade de Southampton. No Reino Unido, depois de se terminar o curso, concorre-se ao Foundation Programme a nível nacional. O Foundation Programme são dois anos em que se passa por várias rotações clinicas e/ou académicas de forma a obter-se experiência nas varias especialidades de medicina para depois se optar por uma especialidade clínica.

De momento estou a concluir o meu último ano deste programa em Oxford e a fazer a rotação de General Practice.

Pretendo iniciar a Especialidade de Anestesia em Agosto onde regressarei ao Deanery the Wessex e onde estarei nos proximos três anos como Anestesista junior.

Quais os aspectos mais positivos desta tua experiência?

A possibilidade de experimentar varias especialidades médicas permite obter experiência em outras áreas da medicina e obter mais conhecimentos que serão uteis em qualquer especialidade. Permite também desenvolver a prática clinica.

Oxford foi uma excelente oportunidade em particular, porque permitiu trabalhar com equipas clínicas com uma vertente de investigação muito forte. Tive a oportunidade de trabalhar com vários médicos de renome, nomeadamente em cirurgia, e aprender muito com eles. As aulas, que decorrem paralelamente à prática clinica, foram muitas vezes dadas por especialistas nas diferentes áreas a serem lecionadas.

Em General Practice tem sido enriquecedor aprender como é feito o financiamento do NHS, para além de perceber a interligação entre os cuidados primários e secundários.

E negativos?

A parte mais negativa ao fazer estas rotações é que se muda frequentemente de equipa e de hospital. Esta constante necessidade de adaptação a novas equipas torna-se, por vezes, cansativa, assim como a necessidade frequente de se mudar de casa.

Até ao momento, a minha experiência em General Practice permitiu-me observar que, para além da prática clínica, os médicos de família precisam de gerir os fundos monetários, já que são eles que financiam os cuidados secundários prestados aos seus doentes. Existe muitas vezes uma necessidade em repensar os casos clínicos para perceber se realmente justificam ser referenciados para cuidados de especialistas ou se podem ser geridos na comunidade. Isto gera muita pressão sobre os médicos de família que precisam de justificar todos os exames e cuidados fora da comunidade. Muitas vezes, existe um conflito de interesses entre o que o doente gostaria de fazer e o que realmente se justifica em termos clínicos.



O que pensas do Sistema de Saúde inglês?

Não existe nenhum sistema perfeito e o National Health System tem os seus pontos menos fortes. No entanto, a sua estrutura e princípios são um exemplo a seguir.

Acho que consegue aliar boa prática clínica com frequentes auditorias para melhoramento de serviços e a prática de “evidence based medicine”.

Actualmente, está a atravessar uma fase de mudança devido ao aumento dos cuidados médicos para uma população mais envelhecida, sedentária e com problemas crónicos.

Mas muito se tem feito para melhorar a saúde da população em geral e na responsabilização dos doentes pela sua própria saúde.

Da realidade que estás a vivenciar em Oxford o que gostarias de ver replicado em Portugal?

A investigação e auditorias são prática comum em medicina e penso que em Portugal estas vertentes deveriam de ser também práticas comuns. O tempo dedicado à realização de auditorias que tem como objectivo melhorar a prática clinica. Todos os médicos têm de fazer estes projectos, o que obriga a uma constante actualização de conhecimentos clínicos.

Acho que o Reino Unido é, sem dúvida, um exemplo a seguir na maneira como concilia investigação e prática clinica.

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